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Alex Li Trisoglio

Aspiração: Semana 2 – Benefícios

23 de março de 2024
67 minutos

Referência: Rei das Preces de Aspiração de Samantabhadra, versículos 47 – 54

Video / Transcrição

Tradução para o português por Alvaro Luis Campos

Introdução à Semana 2

Bem-vindo

Sejam todos bem-vindos à nossa exploração do poder transformador das preces do Rei da Aspiração de Samantabhadra. Esta semana, a segunda semana, focaremos nos versículos 47 a 54, que tratam dos imensos benefícios de recitar e praticar esta prece. E a imagem desta semana é o lótus florescendo na água lamacenta, uma imagem budista clássica da possibilidade de iluminação em nosso mundo comum, cheio de sofrimento. 

Como discutimos na semana passada, as preces do Rei da Aspiração são consideradas uma joia da tradição budista Mahayana, apreciada em várias escolas pelos seus ensinamentos profundos sobre a bodhichitta e o caminho do bodhisattva. Originário do Sutra Gandavyuha, que faz parte do Sutra Avatamsaka, ele encapsula as aspirações de Samantabhadra, um bodhisattva que incorpora a prática e a virtude, e serve como uma luz orientadora para os praticantes, delineando o caminho para a iluminação através do cultivo da compaixão ilimitada e intenções altruístas para com todos os seres sencientes. É amplamente praticado em muitas tradições budistas, especialmente no Leste Asiático, e também a prática principal durante os festivais de oração tibetanos Mönlam em Bodh Gaya.

Ajustando nossa motivação

Então, para começar, gostaria de seguir o exemplo de Dzongsar Khyentse Rinpoche e começar convidando todos nós a sintonizar nossas motivações, como diz Rinpoche. Então, para entender o que isso significa, deixe-me contar uma história de quando eu era jovem. Frequentei uma escola em Londres, uma escola da Igreja da Inglaterra, e todos os dias antes do almoço escolar, o diretor nos orientava a dar graças, que era: “Pelo que estamos prestes a receber, que o Senhor nos torne verdadeiramente gratos. ” Essa é uma expressão cristã padrão de graça, cultivando apreço e gratidão. E como sabemos agora pela psicologia positiva e pelo estudo da felicidade, se toda essa [pesquisa] realmente puder ser resumida em apenas uma coisa, é que seremos felizes na medida em que pudermos ser gratos e apreciar nossas vidas. 

E podemos contrastar isso com a nossa mentalidade comum de consumidor ou usuário, onde esperamos ficar impressionados com um produto ou serviço, e se algo não estiver funcionando do nosso agrado, toda a responsabilidade recai sobre a pessoa que fez o produto ou fornece o serviço, e não temos qualquer responsabilidade como usuário em aproveitar a experiência. Não é de surpreender que todos estejamos tão infelizes nesta sociedade de consumo. 

Os Três Métodos Supremos

Então, sim, aspiração, dar graças – isso é muito bom. E o Dharma tem algo ainda melhor. Temos algo chamado de Três Métodos Supremos – bom no começo, no meio e no fim. Há uma citação popular de Longchenpa:

Comece com bodhichitta, faça a prática principal sem conceitos, 
Conclua dedicando o mérito. Estes juntos e completos 
São os três apoios vitais para progredir no caminho da libertação. 

Portanto, sintonizar a nossa motivação para um texto Mahayana como este tem tudo a ver com realmente trazer à mente e cultivar a bodhichitta, a aspiração de alcançar a iluminação para o benefício de todos os seres. E o “bom no meio” e o “bom no final” também farão parte desta prece, e falaremos disso nas próximas semanas. Teremos muito o que discutir quando se trata de praticar sem conceitos, e também no final falaremos sobre dedicação.

Benefício relativo e final

Então, um pouco mais sobre bodhichitta – a aspiração de que “posso obter a iluminação suprema para promover o bem de todos os seres e estabelecê-los na iluminação suprema e perfeita”. Queremos oferecer benefícios relativos e finais aos outros. Diz-se que sem o benefício final, sem a bodhichitta absoluta, apenas ter aspirações relativas pode degenerar em piedade e sentimentalismo. Rinpoche muitas vezes chama isso de mentalidade “filantrópica”, onde nos consideramos bons e os outros, de alguma forma, inferiores a nós. Mas da mesma forma, se você tiver o absoluto apenas sem o relativo, isso pode levar ao niilismo e à falta de desejo de se envolver com outros seres sencientes para seu benefício no mundo comum. No mundo moderno vemos agora muito foco no budismo engajado e em como nós, como budistas, não estamos limitados apenas à prática, mas podemos realmente procurar ser benéficos no mundo relativo. 

Há um ensinamento de Rinpoche chamado Trabalho como Prática, onde ele explica como podemos aplicar essa motivação a qualquer coisa que fazemos quando estamos trabalhando. E ele sugere, como parte do estabelecimento do nosso “bem no início”, que possamos recitar alguns versos do Bodhicharyavatara de Shantideva, do capítulo três:

[3:18] Possa eu ser um protetor para os que vivem desamparados, 
Um guia para os viajantes que seguem pelas estradas. 
Para os que desejam cruzar para a outra margem, 
Que eu seja uma balsa, uma jangada, uma ponte. 

[3:19] Possa eu sera uma ilha para aqueles que anseiam por terra firme, 
Uuma lamparina para aqueles que desejam luz; 
Para aqueles que precisam de descanso, um leito; 
Para todos que necessitam de serviço, possa eu ser seu servo.

Então, vamos reservar um momento para definir nossa intenção para o tempo que passaremos juntos durante a próxima hora.

[Pausa]

Da generosidade comum à paramita da generosidade

Então, só para enfatizar, no Mahayana, há realmente uma mudança tripla em relação a um tipo comum de aspiração mundana:

  • Em primeiro lugar, estamos mudando o foco no benefício para nós mesmos para o benefício dos outros.
  • Em segundo lugar, estamos nos afastando do foco apenas em alguns seres sencientes – nossos amigos, nossa família, pessoas de quem gostamos – para todos os seres sencientes. É verdadeiramente uma aspiração universal que exige que ultrapassemos o tribalismo, que ultrapassemos os tipos habituais de fronteiras que temos nos nossos mundos sociais e políticos. 
  • E, finalmente, é uma mudança do foco dos benefícios relativos, dos benefícios mundanos, para a iluminação, indo além do benefício comum. 

Falaremos mais sobre isso nas próximas semanas, mas esta é a diferença entre coisas como a generosidade comum e o que no Mahayana é chamado de paramita da generosidade, que é a primeira na prática das seis Paramitas. E uma das coisas que continuaremos vendo nesta prece é que ir além do comum para algo que pode ser considerado uma “paramita” significa ir além da concebibilidade comum, o que será um grande tema nesta semana, como em todas as semanas. . 

Assim, no espírito de aspiração, na ideia de algo infinito, que às vezes pode parecer mais do que podemos suportar, quero partilhar a história da jovem e da estrela do mar na praia1Esta história vem em muitas versões. Esta versão foi retirada de Zander, Rosamund Stone & Zander, Benjamin (2000) “The Art of Possibility”. Veja também a Wikipédia em The Star Thrower..

“Passando à beira-mar, um homem avista uma jovem que parece estar envolvida em uma dança ritual. Ela se abaixa e se ergue em toda a sua altura, esticando o braço em um arco. Aproximando-se, ele vê que a praia ao seu redor está repleta de estrelas do mar, e ela as joga uma a uma no mar. Ele zomba dela levemente: “Há estrelas do mar encalhadas até onde a vista alcança, a quilômetros da praia. Que diferença pode fazer salvar alguns deles?” Sorrindo, ela se abaixa e mais uma vez joga uma estrela do mar sobre a água, dizendo serenamente: “Certamente faz diferença para esta aqui”.

Aspiração, motivação e intenção

Distinguindo alguns termos importantes

Esta semana é sobre benefícios, que é o que alcançaremos como resultado da prática das preces do Rei da Aspiração. Mas existem vários termos relacionados, incluindo intenção, motivação, aspiração e até mérito. Por isso gostaria de passar algum tempo falando sobre eles, porque acho que será útil distingui-los tanto para esta semana como para as futuras.

(1) Aspiração (Meta) = “O quê?”

Então, em primeiro lugar, aspiração. O que é uma aspiração? Acho que podemos pensar nisso como o objetivo, ou o “O quê” da nossa prática. Refere-se a um forte desejo de alcançar algo, normalmente de natureza elevada ou espiritual. É o anseio por algo que está além do nosso estado atual ou da nossa capacidade atual. No Budismo, a aspiração está intimamente associada ao desenvolvimento da bodhichitta, a mente da iluminação, onde aspiramos atingir o estado de Buda para o benefício de todos os seres sencientes. Este é o alicerce do Mahayana, onde realmente queremos ajudar todos os seres a superar o sofrimento. E como forma de entender isso, vou usar a analogia de escalar uma montanha. Aqui a nossa aspiração ou objetivo pode ser como o objetivo de chegar ao cume, não apenas por uma questão de realização pessoal, mas também para inspirar outros, ou talvez para aumentar a sensibilização para uma causa. Nesta analogia, a aspiração é como o desejo de iluminar todos os seres no Budismo, e o desejo do alpinista de chegar ao topo é algo que está além das suas capacidades ou estado atuais.

(2) Motivação (Inspiração) = “Por quê?”

A seguir vem a motivação ou inspiração, que é o “Porquê” da nossa jornada. É a força motriz por trás de nossas ações. É o que nos impulsiona a avançar em direção ao nosso objetivo. As motivações podem ser intrínsecas, provenientes de dentro, por exemplo, motivadas pela satisfação pessoal ou pelo desejo de auto-aperfeiçoamento. Ou podem ser extrínsecos, motivados por recompensas externas ou para evitar resultados negativos. No Budismo, a motivação é a chave para sustentar a nossa prática e conduta ética. A motivação sempre recebe grande importância, com ênfase no cultivo de motivações saudáveis que levam ao bem-estar de nós mesmos e dos outros. Por exemplo, somos encorajados a meditar não apenas para ter paz de espírito pessoal, mas como um meio de desenvolver qualidades como compaixão e sabedoria que podem beneficiar os outros. No exemplo do alpinismo, a motivação seria a força motriz do escalador para embarcar na jornada desafiadora, talvez um desejo intrínseco de superar limites pessoais ou de vivenciar a beleza e a solidão das montanhas, ou talvez fatores extrínsecos como o reconhecimento que advém da conquista. , ou talvez para apoiar uma causa de caridade.

(3) Intenção/Abordagem = “Como?”

Terceiro, intenção. Este é o “Como” ou a abordagem que adotamos em nossa jornada diária. A intenção é definida como o propósito ou atitude por trás de nossa ação. É mais específico que a motivação e pode ser visto como o pensamento ou objetivo imediato que leva à nossa ação. As intenções são moldadas por aspirações e motivações e desempenham um papel crucial na determinação das consequências cármicas das ações no Budismo. No Budismo a intenção é fundamental para a compreensão do carma. Diz-se que as ações são moralmente determinantes com base na intenção por trás delas. Mesmo que uma ação pareça exteriormente benéfica, se for motivada por egoísmo, ganância ou ilusão, ainda assim é considerada prejudicial. E este cultivo da intenção correta é uma parte importante do Nobre Caminho Óctuplo, enfatizando intenções de renúncia, boa vontade e não prejudicar os outros. Para o alpinista, a intenção seria a atitude do alpinista ao realizar a escalada. Talvez ele ou ela queira escalar com respeito, minimizando o impacto ambiental ou ajudando outros escaladores necessitados, refletindo considerações éticas semelhantes a um foco budista na intenção correta. As intenções do escalador garantem que a sua jornada montanha acima esteja alinhada com os seus valores e aspirações. E mesmo como budistas, devemos sempre ser um pouco cautelosos e auto-reflexivos, porque uma coisa que é muito comum é a intenção não estar alinhada com a nossa aspiração. Por exemplo, as pessoas podem ir a um ensinamento budista com a aspiração de aprender e estudar em prol da iluminação, mas muitas vezes há pressa para sentar nos melhores lugares na frente, ao lado do professor. E assim a nossa intenção imediata pode nem sempre estar devidamente alinhada com a nossa aspiração. Portanto, é bom verificarmos e estarmos atentos.

Resumo

Então, em resumo, a aspiração, o “O quê” ou a meta define a nossa visão para a nossa jornada espiritual. Neste caso, focando-nos no objetivo final de iluminar todos os seres sencientes. A motivação ou inspiração é o nosso “Porquê”, que é o nosso combustível para a nossa jornada, e que fornece a nossa energia diária e as razões para nos envolvermos na nossa prática, seja ela meditação, vida ética ou estudo do Dharma. Ajuda-nos a superar obstáculos e nos sustenta através dos desafios. E como praticantes, é muito importante que nos mantenhamos inspirados. E, por exemplo, ao responder a uma das perguntas dos ensinamentos de Vancouver, Rinpoche disse que se estamos perdendo a inspiração, às vezes a melhor resposta pode até ser fazer uma pausa na nossa prática – se dessa forma pudermos voltar revigorados. e mais inspirado. Nossa intenção ou abordagem — o nosso “Como” — orienta as nossas escolhas momento a momento, garantindo que as nossas ações estejam alinhadas com os nossos objetivos éticos e espirituais. E em cada caso, como diz Rinpoche, “Vocêé seu próprio mestre”. Estas são coisas pelas quais podemos assumir responsabilidade em nosso próprio caminho e em nossa jornada espiritual.

Uma visão geral da jornada

Ao refletirmos sobre a nossa jornada, para a maioria de nós, quando nos interessamos ou nos sentimos atraídos pelo Budismo, existe algum tipo de energia, motivação ou inspiração inicial. E então, com o tempo, passa para um segundo estágio, onde nos familiarizamos mais através da prática ou do estudo, e cultivamos intencionalmente uma aspiração, que no Mahayana é uma prática real, daí esta prece. E então, com base nessa aspiração, na nossa ação quotidiana pretendemos integrar a nossa aspiração nas nossas intenções e nas nossas ações. Há uma progressão, de uma atração inicial para uma prática intencional profunda, e isso reflete tanto a nossa jornada pessoal de crescimento quanto a abordagem estruturada do caminho.

Então, novamente, apenas para refletir sobre onde podemos estar agora em nossa jornada, nossa atração ou motivação inicial pode ser por uma variedade de motivações. Talvez para algumas pessoas seja o desejo de paz interior ou de compreensão dos sofrimentos da vida, ou de lidar com a doença ou a morte entre amigos ou familiares, ou talvez com a nossa própria morte iminente. Ou talvez seja curiosidade sobre práticas de meditação e atenção plena. E assim esta atração inicial é alimentada por uma forma de motivação que procura algo além da nossa compreensão ou experiência atual – seja a busca de alívio do sofrimento, respostas existenciais, bem-estar psicológico, ou talvez até mesmo a exploração de experiências além do comum. E à medida que nos familiarizamos mais com os ensinamentos e as práticas, o nosso envolvimento leva-nos a uma reflexão mais profunda sobre o nosso propósito, tanto para a nossa vida como para a nossa prática, e também as implicações para as nossas ações. E no Mahayana somos encorajados a cultivar a bodhichitta, a aspiração de alcançarmos a iluminação para o bem de todos os seres. E então, com essa aspiração clara estabelecida, podemos então voltar-nos para as nossas ações e procurar alinhá las com a nossa visão mais ampla.

Mérito e benefício

Mérito

Já falamos um pouco sobre o “O quê”, o “Porquê” e o “Como” do caminho. Então vamos agora falar um pouco sobre mérito e benefício, que é o tema desta semana. Então, o que é mérito? Mérito refere-se à energia positiva ou potencial cármico gerado por boas ações, ações virtuosas e práticas alinhadas com o Dharma. As ações meritórias incluem doação (dana), conduta moral (shila) e meditação (bhavana), entre outras. O mérito é visto como crucial para o nosso progresso espiritual e para alcançar renascimentos favoráveis, e tem um papel muito significativo nos países budistas tradicionais. Internamente, é visto como algo que nos torna felizes e virtuosos em nossas mentes, e externamente, por dar origem a boas circunstâncias, como vida longa, saúde, riqueza, bem como o caráter e as habilidades com as quais nascemos. Tudo isso é visto como decorrente de méritos que acumulamos no passado, e vice-versa e se a nossa situação não for tão boa, de deméritos do passado. Os méritos e deméritos que acumulamos no passado podem demorar um pouco para dar frutos e só aparecerão na próxima vida ou em vidas futuras. Afirma-se nas escrituras budistas do Cânone Pali que as pessoas não podem levar nada consigo quando morrem, exceto quaisquer méritos e deméritos que tenham acumulado, o que afetará então o seu futuro.

Quando ensinou esta prece em Vancouver em 2024, Dzongsar Khyentse Rinpoche contou a história de uma época em que estava dando esmolas a um monge na Tailândia, o que é uma forma muito tradicional de gerar mérito. Então, gostaria de oferecer um pouco mais de contexto para pessoas que não estão tão familiarizadas com a cultura tradicional dos países budistas. E talvez ao contrário da concepção popular, a obtenção de mérito é feita tanto por monásticos como por leigos. Tanto os monges quanto os leigos podem obter mérito por meio da atenção plena, da meditação, do canto e de outros rituais. E para os leigos, dar é a forma mais comum de obter mérito, porque os monges, por exemplo, não podem cozinhar sozinhos, por isso dar-lhes comida é uma prática muito comum. Os monásticos, por sua vez, praticam ser um bom campo de mérito e obtêm mérito ensinando quem dá – os doadores. Desta forma, a obtenção de mérito cria uma relação simbiótica entre os leigos e a sangha ordenada, e a sangha é obrigada a ser acessível aos leigos para que eles possam obter mérito.

Doando

A doação pode ser feita de várias maneiras. Alguns leigos oferecem comida, outros oferecem mantos e suprimentos, outros financiam cerimônias, constroem mosteiros ou talvez convencem um parente a se ordenar monge. Os jovens muitas vezes serão ordenados monges temporariamente porque acreditam que isso não só produzirá frutos de mérito para eles próprios, mas também para os seus pais que lhes permitiram a ordenação. Na China, na Tailândia e na Índia, era comum oferecer terras, ou a primeira colheita, a um mosteiro. E ao longo da história budista, as pessoas estavam tão empenhadas em obter mérito e em dar que, em algumas sociedades, as pessoas chegavam a oferecer-se a si próprias e às suas famílias a templos budistas, por exemplo, no antigo reino pagão da Birmânia. Da mesma forma, há a história do rei Mahakuli Mahatissa, um rei do Sri Lanka do século I aC que se disfarçou de camponês e começou a ganhar a vida trabalhando em um arrozal para poder obter mérito dando arroz aos monges budistas. E, em alguns casos, considera-se que a obtenção de mérito continua após a morte de uma pessoa. Por exemplo, na antiga tradição tailandesa, era considerado meritório que as pessoas dedicassem os seus cadáveres para alimentar animais selvagens após a morte. E da mesma forma, há muitas histórias de ações meritórias do próprio Buda em suas vidas anteriores, por exemplo, nos contos de Jataka.

O cultivo do mérito é motivado por aspirações pessoais e altruístas. Como principiantes, talvez possamos empenhar-nos mais na obtenção de mérito com a motivação de melhorar as nossas próprias circunstâncias, por exemplo, para garantir um renascimento melhor ou experimentar menos sofrimento. Mas com o tempo, à medida que cultivamos aspirações mais amplas, especialmente na tradição Mahayana, a nossa acumulação de mérito torna-se mais focada em permitir o nosso progresso em direção à iluminação para o bem de todos os seres. Assim, a intenção por trás das nossas ações meritórias evolui, refletindo o nosso compromisso cada vez mais profundo com o bem-estar dos outros.

Voltando ao exemplo do alpinismo, eu diria que a obtenção de mérito é uma ideia especificamente budista, que não tem analogia direta no Ocidente. Mas talvez possamos considerá-lo em termos da energia positiva ou do reconhecimento obtido com a escalada. Poderíamos pensar nisso como ativos ou talvez até como capital. Ao realizar a escalada com boas intenções, ao respeitar a natureza ou outras pessoas ao longo do caminho, o escalador acumula boa vontade e respeito da comunidade, o que é como uma forma de mérito. E isto apoia os esforços futuros do alpinista, tal como um budista acumularia condições favoráveis para o progresso espiritual. E embora a palavra “ativos” normalmente conote coisas materiais, também pode incluir coisas como boa vontade, reputação, redes e confiança. E podemos pensar em “capital” num sentido que vai além do mero capital financeiro, e também inclui coisas como capital social e capital emocional – o sentido de valor acumulado que apoia as nossas boas ações futuras.

Beneficiar

Finalmente, o benefício tem tudo a ver com impacto. Benefício no Budismo é entendido como o impacto positivo de nossas ações, nossas práticas e nosso caminho – tanto para nós mesmos quanto para os outros. Pode abranger tanto o bem-estar imediato como a felicidade gerada por ações virtuosas, bem como benefícios espirituais de longo prazo resultantes de práticas voltadas para a iluminação. E isso está intimamente ligado à ideia das nossas intenções do dia a dia, onde somos muito convidados a pensar no benefício que cada ação terá, tanto para os outros como para nós mesmos. Nosso objetivo é alcançar resultados que promovam a harmonia, reduzam o sofrimento e contribuam para o desenvolvimento espiritual. E esta intenção de beneficiar todos os seres é uma marca registrada do caminho Mahayana.

Voltando ao exemplo do alpinismo, o benefício incluiria tanto os benefícios obtidos através da jornada em si – a força, a resiliência e o crescimento pessoal decorrentes da jornada, mas também qualquer benefício que possamos obter ao chegar ao cume, especialmente se estivermos subindo, por exemplo, por uma causa benemérita.

O mérito é a base do nosso caminho, de qualquer jornada espiritual significativa. Cria as condições necessárias para praticarmos o Dharma de forma eficaz e para finalmente alcançarmos a iluminação. E benefício é a expressão. Agir com a intenção de beneficiar os outros é a expressão natural do nosso caminho budista. E há uma relação cíclica entre os dois. Geramos mérito através de ações virtuosas, o que leva ao benefício, o que nos apoia ainda mais na criação de novas ações meritórias. Então, com isso como pano de fundo ou contexto, vamos voltar aos versículos.

Versículos 47-48

Os benefícios de fazer aspirações em geral

Para esta seção da prece, o esboço estrutural nos comentários tem duas seções. Em primeiro lugar, os benefícios de fazer aspirações em geral, que são estes dois primeiros versículos.

[Nota: se você não possui uma cópia do texto da “Rei das Preces de Aspiração”, você pode baixar uma na página Aspiração: Principal]

3. Os benefícios de fazer aspirações

3.1. Os benefícios de fazer aspirações em geral (versículos 47 – 48)

[47] Quem quer que ouça esta prece de dedicação,
E ansiar pela iluminação suprema,
Quem, mesmo por uma vez, despertar a fé,
Obterá mérito verdadeiro ainda maior

[48] Do que oferecer aos budas vitoriosos
Infinitos reinos puros em todas as direções, todos ornamentados com jóias,
Ou oferecer-lhes todas as maiores alegrias dos deuses e dos humanos
Por tantas eras quantos forem os átomos desses reinos.

Esta é uma afirmação profunda. Estamos dizendo que o mérito de recitar esta prece é muito maior do que infinitas e vastas ofertas materiais. Mesmo apenas ouvindo isso, mesmo tendo a intenção de recitar esta prece pelo menos uma vez, de desejar o caminho Mahayana, as qualidades do buda e dos bodhisattvas – isso traz enormes benefícios. E Rinpoche enfatizou que “você nunca deve pensar que esta é apenas uma afirmação poética. Na verdade, devido à limitação da linguagem humana, eu diria que isto é um eufemismo. O mérito de realizar uma aspiração como essa é tão vasto que simplesmente não cabe em nossas mentes pequenas.” Sim, podemos entender isso como significando que esta aspiração é poderosa, ou talvez até dizer que ela está inspirando jovens bodhisattvas, dizendo que os Budas têm grande poder para realizar nossos desejos e aspirações. Dzongsar Khyentse Rinpoche disse que esse não é o melhor tipo de intenção, mas ainda assim é bom. 

O conteúdo desta aspiração é incomum

Mas, segundo Rinpoche, a melhor intenção vem com a compreensão de que o conteúdo desta aspiração não é comum. Estas Preces do Rei das Aspirações baseiam-se na visão mais grandiosa e na motivação mais grandiosa – a inconcebibilidade e a vastidão da bodhichitta. Existem duas maneiras diferentes pelas quais esta aspiração não é comum, que são na verdade os dois aspectos diferentes da bodhichitta, o relativo e o último:

(1) A aspiração incomum da bodhichitta: Em primeiro lugar, não aspiramos apenas à mudança mundial, apenas à melhoria da situação de alguém no mundo. Aspiramos à bodhichitta, que é uma aspiração incomum. Como Rinpoche sempre disse, de qualquer maneira, todos nós aspiramos por alguma coisa. Este tipo de prática desviará gradualmente a nossa energia e tempo mental, emocional e físico para o caminho budista e para a nossa transformação. Mesmo apenas a aspiração de beneficiar os outros em vez de apenas a nós mesmos – mesmo isso é bastante diferente da nossa maneira mundana comum de ver as coisas. No Theravada também há aspirações por melhores renascimentos, e acho que muitas pessoas começam desejando bons resultados apenas para si mesmas. Falaremos mais sobre isso nas próximas semanas, mas uma parte importante do que torna o Mahayana “Maha” ou grandioso é a ideia de que ele é para todos os seres sencientes. 

(2) A visão incomum da vacuidade: A segunda maneira pela qual o conteúdo desta aspiração não é comum é por causa da visão, a bodhichitta última, que é inconcebível. Então, na próxima semana, chegaremos à prostração, por exemplo, onde, devido a esta visão do vazio, poderemos nos prostrar simultaneamente a todos os Budas do passado, do presente e do futuro e, assim, multiplicar infinitamente o benefício da nossa ação. Da mesma forma, quando falamos sobre a jornada de Sudhana no Gandavyuha Sutra, ele pôde ver infinitos campos búdicos em um único poro do corpo do bodhisattva Maitreya. E em cada um desses infinitos campos de Buda, ele viu infinitos Budas com infinitos discípulos e infinitos séquitos. Então, só para enfatizar, o vazio não tem a ver com nada ou vacuidade — pelo contrário, tem a ver com plenitude, vastidão, inconcebibilidade. Como disse Rinpoche, é compreender que “em um lótus, existem infinitos lótus, e dentro de cada um deles há um número ilimitado e inconcebível de budas e bodhisattvas”.

Por causa do vazio, tudo é possível

E no Mahayana e no Madhyamaka é dito: “Por causa do vazio, tudo é possível”. É isso que nos permite prostrar simultaneamente diante de todos os Budas dos três tempos e multiplicar infinitamente nossos méritos. Como Rinpoche ensinou em Bodh Gaya no ano passado: “Para aqueles que conseguem entender a visão [inconcebível não-dual] estabelecida no Sutra Avatamsaka, eles não precisam passar por esses detalhes do Buda ter nascido há 2.500 anos e assim por diante”. Se pudermos compreender esta visão não-dual, então, assim como o bodhisattva Sudhana pôde ver todas as suas atividades do passado, presente e futuro num único momento, da mesma forma, tudo o que fizermos aqui, começando com a nossa prática de manhã cedo, indo durante o dia até a noite, tudo pode ser realizado em um único momento. Assim, embora falemos sobre elaborações de tempo e espaço, como disse Rinpoche, “não existe passado, presente e futuro no sentido último. Portanto, não há razão para que a prece não possa ser cumprida ou realizada”. Agora, se pudermos realmente compreender o vazio e a inconcebibilidade que é o cerne desta prece – se pudermos transcender a nossa compreensão comum do espaço e do tempo – poderemos, assim, transcender o mérito de todas as nossas oferendas comuns. 

Eu também diria para aqueles de vocês que já receberam ensinamentos sobre esta prece antes ou leram outros comentários, acho que uma maneira pela qual os ensinamentos de Dzongsar Khyentse Rinpoche são bastante diferentes é que muitos dos comentários Mahayana seguem o caminho causal, onde nos envolvemos em boas ações e, assim, cultivamos causas para um resultado futuro. Mas Rinpoche está ensinando muito mais da perspectiva Vajrayana ou Dzogchen do caminho do resultado. No caminho do resultado, já estamos olhando a partir da perspectiva do resultado da iluminação – o que se poderia chamar de “visão da realidade do ponto de vista de Buda” – daí esta perspectiva cósmica. No caminho do resultado, a visão tem mais a ver com o envolvimento no treinamento e na aspiração para um resultado futuro de iluminação. E parte da firme convicção de que todos os seres sencientes já estão iluminados e que só temos que acordar para essa realidade.

Resumo dos versículos 47 – 48

Então, apenas para resumir estes dois versículos: mesmo um momento de fé genuína é maior do que vastas ofertas materiais. Agora, por que isso acontece? Por causa da intenção por trás de nossas aspirações, nosso desejo sincero pelo bem-estar final de todos os seres, que toca o cerne da aspiração Mahayana. Alinha-se com a nossa mais profunda compaixão e sabedoria sem limites e catalisa a profunda transformação dentro de nós e no mundo que nos rodeia. E quando pensamos nas várias maneiras pelas quais podemos ajudar ou beneficiar os outros, entendemos que o Dharma é a oferenda mais elevada. Assim, embora as práticas budistas tradicionais incluam a realização de muitos tipos de oferendas materiais, simbolizando generosidade ou renúncia, os ensinamentos enfatizam que a oferenda mais elevada é a do Dharma. Em outras palavras, as ações que cultivam a sabedoria, a compaixão e a aspiração à iluminação são aquelas que carregam o maior mérito. Porque embora as oferendas materiais nos ajudem a reduzir o apego, a expressar devoção e a ajudar outros seres de maneiras práticas, aspirações como esta prece transformam diretamente a nossa mente, alinhando-a com a intenção altruísta que é essencial para o estado de Buda.

Então, mais uma vez, vamos refletir sobre nossas próprias aspirações. Quando recitamos esta prece, não estamos apenas recitando palavras. Estamos cultivando um campo ilimitado de mérito dentro de nossos corações. E isto não apenas acelera o nosso próprio caminho para a iluminação, mas também semeia as sementes do potencial para o despertar em inúmeros outros seres.

Versículo 49

Os treze benefícios em detalhes: Benefícios 1 – 3

Agora chegamos ao versículo 49. Na verdade, os próximos versículos de 49 a 53 no esboço falam sobre os 13 benefícios em detalhes. E este versículo contém os três primeiros desses benefícios.

3.2. Os Treze Benefícios em Detalhes (versículos 49 – 53)

[49] Aqueles que verdadeiramente fizerem esta Aspiração às Boas Ações,
(1) Nunca mais nasceram em reinos inferiores;
(2) Estarão livres de companheiros prejudiciais e
(3) Em breve contemplarão o Buda da Luz Ilimitada.

Confiando no poder desta prece

Rinpoche fez alguns comentários sobre cada um desses três benefícios. Curiosamente, quando ele estava ensinando isso em Taiwan em 2016, ele disse: “Se você aspirar de acordo com esta prece, isso garante que você abandonará todos os reinos inferiores”. Nesse ensinamento, talvez você possa dizer que ele estava adotando uma abordagem quase baseada na fé ao explicar esta prece. Ele disse: “Eu acredito nisso. Quase ao ponto de às vezes me tornar preguiçoso. Mas, novamente, não é realmente preguiça [também]. Eu realmente acredito que porque orei e também ouvi o Pranidhana-Raja, ficarei bem. Nesta vida e na próxima vida e [no momento da minha] morte, ficarei bem. Tenho certeza de que alguns intelectuais dirão que estou apenas passando por uma viagem muito cega. [Mesmo] assim, morrerei muito mais pacificamente do que eles. E confiar nisso é uma bênção do Buda.” Ele também disse: “Se você é um seguidor do Budismo Mahayana e visita regularmente o Monte Omeishan, por exemplo, você também deve se sentir feliz”. E Omeishan ou Emeishan é o Monte Emei, que fica perto de Chengdu, na China. É a mais alta das quatro montanhas sagradas budistas da China e é tradicionalmente considerada o bodhimanda, ou local de iluminação de Samantabhadra. 

Aqui Rinpoche estava estabelecendo uma posição que pode ser desconhecida para aqueles de nós que vêem o Budismo como um caminho racional e secular, nomeadamente que a fé cega é talvez ainda mais útil do que o ceticismo racional. Porque se passarmos a vida apenas no ceticismo racional, talvez nunca nos envolvamos realmente na prática. E assim a nossa racionalidade pode realmente nos impedir de cultivar o mérito que precisamos para progredir no caminho. Então, sim, o ceticismo é altamente encorajado no Budismo ao fazer análises e ao estabelecer a visão. Mas quando se trata de prática, somos realmente encorajados a nos envolvermos de todo o coração em nossa prática, com devoção e fé. É muito mais útil para nós prosseguirmos com a nossa prática. E para todos nós, estabelecer e refinar a nossa visão também levará algum tempo. Pode levar muitos anos. É muito melhor começar a nossa prática com uma visão imperfeita do que passar muitos anos refinando a nossa compreensão intelectual e nunca começar a praticar. 

Também é explicado nos comentários que este primeiro benefício também fala sobre como esta prece liberta do renascimento em reinos inferiores. E assim, tradicionalmente, especialmente no Tibete, quando alguém morre, uma das primeiras coisas que é feita é recitar as Preces do Rei das Aspirações para evitar renascimentos inferiores. Então essa também é uma prática que você pode fazer com pessoas falecidas em sua vida. Esta é uma ótima prece para isso.

O significado de amigos não virtuosos

A segunda parte deste versículo, o segundo benefício, fala sobre estar livre de companhias prejudiciais. Aqui Rinpoche explicou que quando falamos de “maus amigos”, isso não significa necessariamente alguém que te distrai levando você ao cinema ou coisas assim. Pelo contrário, é alguém que impede você de ter interesse e devoção pela visão do vazio. Alguém que faz com que você não tenha confiança em conceitos como em uma flor de lótus, existem 25 lótus contendo infinitos budas e bodhisattvas. Em outras palavras, maus amigos são aqueles que atrapalham seu interesse, devoção ou disposição para praticar o Dharma. E a razão pela qual outros podem não ser virtuosos é porque não têm esse tipo de grande aspiração. Nossa aspiração é vasta e, uma vez que você tenha esse tipo de atitude, você abandonará automaticamente amigos não-virtuosos de mente pequena ou mesquinha. 

A terceira parte do versículo é sobre Amitabha. Rinpoche disse que há muitas maneiras diferentes de pensar sobre o Buda Amitabha. E geralmente, por exemplo, na prece Sukhavati escrita por Raga Asa, dizemos que Amitabha é de cor vermelha e reside na direção oeste. Mas, na verdade, se você pensar no nome dele, “O Buda da Luz Ilimitada”, isso está novamente falando sobre a natureza inconcebível que está no cerne desta prece. Apenas por lembrar o seu nome, a sua forma, a sua cor – através dessa aspiração, podemos realizar os nossos desejos. Em resumo, o versículo 49 não trata apenas de evitar danos, trata-se de transformação. Ao nos distanciarmos de associações e inclinações prejudiciais, abrimos nossos corações à influência da intenção iluminada de todos os Budas, simbolizada aqui pelo Buda Amitabha. E a visão de Amitabha não é apenas um encontro visual. Na verdade representa o despertar da nossa natureza inerente de Buda, a nossa primeira experiência no caminho onde somos tocados por isso, iluminando o nosso caminho com compaixão e sabedoria. 

Versículo 50

Os treze benefícios em detalhes: Benefícios 4 – 7

[50] (4) Eles adquirirão todos os tipos de benefícios e viverão felizes;
(5) Mesmo nesta vida atual tudo correrá bem,
(6) E em pouco tempo,
(7) Eles se tornarão exatamente como Samantabhadra.

O versículo 50 compreende os benefícios de quatro a sete. O número quatro é obter fatores benéficos. O número cinco, não explícito no versículo, é ter boa saúde. O número seis é ter boa sorte nesta vida, que consiste em ter boas condições para que possamos beneficiar melhor os outros e fazer a nossa prática. E o número sete é que nos tornaremos como Samantabhadra.

Aqui Rinpoche disse que de acordo com o Pranidhana-Raja, todas as outras preces são consideradas preces relativas. Por exemplo, mesmo no Budismo, existem muitas preces para uma vida longa, mas estas são consideradas convencionais ou subjetivas. O que é longo? Um minuto pode ser longo. E por muito tempo é bom? Seria benéfico para nós viver mil anos ou 10.000 anos? Da mesma forma, podemos orar por prosperidade ou sucesso, mas estes são muito relativos e subjetivos. E como disse o Rinpoche, você ainda pode fazer essas preces, não há nada de errado com elas. Mas se você esquecer a aspiração última de iluminar todos os seres, essas aspirações relativas por si só não o levarão a lugar nenhum. Elas não são bodhichitta. E o nosso objetivo como budistas é sair do samsara, não apenas melhorar o nosso estatuto no mundo relativamente materialista.

A natureza búdica como base para a nossa aspiração

Rinpoche também falou que para uma prece funcionar, precisamos ser capazes de confiar que existe algum tipo de base ou fundamento para a prece. Quando falamos de uma aspiração perfeita, significa que ela deve render ou gerar um resultado perfeito. E esta aspiração da bodhichitta – aspirar pela iluminação de todos os seres sencientes – é considerada no Mahayana como a única aspiração que dará uma fruição ou resultado perfeito. A ideia de “que eu possa ser livre da ignorância, que eu possa libertar todos os seres da ignorância” – isso é válido porque é alcançável. Muito mais do que vida longa ou riqueza. Ou como disse Rinpoche: “Que todos os seres sejam iluminados, isso é muito alcançável”. Embora todos os aspirantes possam se tornar budistas, isso não é necessariamente alcançável e nem necessariamente é uma coisa boa.

Então, por que dizemos que há uma base para esta aspiração? Qual é a nossa razão para acreditar nesta aspiração? A razão pela qual temos confiança na bodhichitta é porque a ignorância e as impurezas não são a nossa verdadeira natureza. Aqui estamos falando sobre a natureza búdica. Não dedicamos muito tempo a esse assunto nesta prece, mas em outros textos Mahayana, como o Uttaratantra-shastra, gastamos muito tempo estabelecendo a base, a compreensão da natureza de Buda. E há três maneiras de abordar isso:

  • Fé e devoção: Primeiro é apenas ter fé e devoção no Buda e nas três joias, e devoção ao professor. Portanto, mesmo que não compreendamos completamente os ensinamentos sobre a natureza búdica, apenas ter fé e devoção já é uma base útil para nós.
  • Estudo e contemplação: Em segundo lugar, podemos estudar os textos Mahayana, como o Madhyamaka e o Uttaratantra, para termos confiança no vazio e na natureza búdica como base.
  • Experiência: Terceiro, à medida que começamos a praticar, podemos começar a adquirir confiança com base na nossa própria experiência. Começamos a perceber que não estamos com raiva ou com ciúmes o tempo todo. Há momentos em que a nossa consciência é clara, quando a nossa aspiração é positiva. Então percebemos que as nossas emoções negativas e as nossas impurezas não são a nossa verdadeira natureza. São como sujeira cobrindo uma janela, e a janela mesma está limpa. Assim, através da nossa experiência, podemos deixar bem claro que temos uma janela limpa. A sujeira não faz parte da janela e, portanto, a janela pode ser limpa. Agora, essa é a confiança que nos permite aspirar, não apenas pela nossa própria iluminação, mas também pela iluminação de todos os seres. 

Outro aspecto que Rinpoche abordou aqui mais uma vez é a não-dualidade. Ele disse que poderíamos pensar: “Que todos os seres sejam iluminados”. Mas pode parecer que isso levará muitos, muitos eras. Para sempre. E o que queremos dizer com “todos”? Então aqui ele disse: “Não vamos esquecer a interpretação Mahayana”. Então, voltando ao Sutra Gandavyuha e à jornada de Sudhana, quando ele conheceu Indriyeshvara, o menino de oito anos que lhe deu ensinamentos sobre números. Como disse Rinpoche, depois de passar por todos esses números inimagináveis, Indriyeshvara pergunta: “Qual é o significado de um? Um, cem, mil, cem mil. Não há diferença. Eles são todos ilusórios. São todos relativos, todos imputados por padrões habituais.” Como disse Rinpoche, “você realmente precisa conhecer esse elemento”. Então é por isso que para um estudante Mahayana, aspirar “Que todos sejam despertos ou iluminados” é muito mais viável do que “Que haja paz mundial”. Como ele disse, a paz mundial não é tão fácil, mas todos se iluminando: “Isso é muito possível, fácil”.

Somente os budas e bodhisattvas compreendem o pleno funcionamento de causa e efeito

Além disso, neste contexto em que a única aspiração verdadeira, confiável ou sólida é a aspiração última da bodhichitta ou da iluminação de todos os seres, temos que confrontar a noção de que mesmo no mundo relativo, podemos desejar fazer o bem aos outros, mas a nossa capacidade de saber o que realmente vai ser bom é bastante limitada. Podemos fazer algo com boas intenções, mas pode ter resultados ruins. Então, apenas como exemplo, há a famosa história do agricultor chinês. Aqui, vou dar a versão de Alan Watts:

Era uma vez um fazendeiro chinês que perdeu um cavalo. Fugiu. E todos os vizinhos apareceram naquela noite e disseram “Isso é uma pena”. E ele disse “Talvez”.

No dia seguinte, o cavalo voltou e trouxe consigo sete cavalos selvagens. E todos os vizinhos vieram e disseram “Ora, isso é ótimo, não é!”. E ele disse “Talvez”.

No dia seguinte, seu filho, que tentava domar um desses cavalos, ao montar foi arremessado e quebrou a perna. E todos os vizinhos apareceram à noite e disseram: “Bem, isso é uma pena, não é?” E o agricultor disse “Talvez”.

No dia seguinte, os oficiais de recrutamento apareceram em busca de pessoas para o exército e rejeitaram seu filho porque ele estava com uma perna quebrada. E todos os vizinhos apareceram à noite e disseram “Isso não é maravilhoso”. E ele disse “Talvez”.

Todo o processo da natureza é um processo integrado de imensa complexidade. É realmente impossível dizer se algo que acontece é bom ou ruim, porque nunca se sabe quais serão as consequências. Você nunca sabe o que será boa sorte ou infortúnio. Assim, como disse Rinpoche, devemos sempre aspirar a seguir Mañjushri ou Samantabhadra, reconhecendo que somente eles compreendem completamente a função de causa, condição e efeito. 

Adquirir coisas boas e “todo tipo de benefícios”

O quarto benefício de recitar estas Preces do Rei das Aspirações é que o aspirante a bodhisattva adquirirá todos os tipos de coisas boas. Aqui consideramos coisas “boas” como coisas que apoiam a nossa prática do Dharma e a prática do Dharma dos outros, e todas as coisas que nos apoiam no caminho para a iluminação. Isto inclui coisas como encontrar um professor qualificado e encontrar amigos virtuosos que tenham devoção e interesse nos ensinamentos. No Budismo Vajrayana, estas são tradicionalmente conhecidas como as 18 liberdades e vantagens. Por exemplo, se praticamos o ngöndro, logo no início contemplamos nosso precioso nascimento humano. E a preciosidade de um nascimento humano é considerada em termos destas 18 liberdades e vantagens. Aqui novamente, as coisas boas são definidas em termos daquilo que conduz ao nosso estudo e prática do Dharma.

Isso também pode incluir coisas externas, como saúde e riqueza. Pode ser difícil estudar e praticar o Dharma se não tivermos as condições externas adequadas. E sim, claro, ainda desejamos obter benefícios relativos neste mundo, incluindo social, político e assim por diante. Mas, idealmente, esta aspiração por benefícios relativos no mundo exterior está sempre com este espírito de criar as condições para que eu e os outros pratiquem o Dharma, encontrem os ensinamentos e os coloquem em prática. E aqui também, normalmente começaremos nossa prática com uma compreensão mais relativa do que é fazer o bem e do que cria mérito, e à medida que compreendermos o vazio mais profundamente, progrediremos da generosidade comum para a paramita da generosidade. Veremos isso com mais detalhes nos ensinamentos da próxima semana sobre os primeiros 12 versículos, onde falaremos sobre os fundamentos para a nossa prática de aspiração. E, em particular, à medida que avançamos nos versículos desta prece, iremos cada vez mais nos aprofundar na inconcebibilidade, no vazio e na não-dualidade. E para que possamos realmente compreender o vazio e a não dualidade e colocá-los em prática requer um grande mérito. Muito do que faremos será estabelecer e cultivar o mérito para isso. 

Vivendo bem

Quando Rinpoche comentou sobre o sexto benefício de viver bem, ele disse: “Por que consideramos que vivemos bem? Porque você tem uma grande visão. Um pequeno arranhão aqui, ou um amassado ali – isso não incomoda mais. Quando você tem uma grande visão, uma grande visão, um grande plano – um pouco de fracasso aqui ou ali não é nada. Então você dorme bem. você vive bem. Se você está pensando em coisas muito limitadas, então você tem muitas coisas com que se preocupar.” E como ele disse, todos nós sabemos aonde isso leva. “Já fizemos bastante desse negócio preocupante e ele não vai acabar.” E assim, resumindo o versículo 50, ele está trazendo nossa atenção para o aqui e agora, prometendo felicidade e cultivo das qualidades de bodhisattva em nossa existência atual. E esta transformação imediata é crucial. À medida que incorporamos a compaixão, a sabedoria e outras qualidades do bodhisattva, as nossas vidas também se tornam um farol de esperança e orientação para os outros. A nossa felicidade torna-se cada vez mais interligada com a felicidade de todos os seres, demonstrando que a iluminação não é apenas um objetivo distante, mas uma realidade presente que podemos cultivar através das nossas aspirações e ações. 

Versículo 51

Os treze benefícios em detalhes: Benefício 8

[51] (8) Todos os atos negativos – mesmo os cinco da retribuição imediata –
O que quer que tenham cometido nas garras da ignorância,
Em breve serão completamente purificados,
Se recitarem esta Aspiração às Boas Ações.

No versículo 51, chegamos ao oitavo dos 13 benefícios. Tradicionalmente, estes cinco atos de retribuição imediata – matar o pai, matar a mãe, matar um arhat, tirar sangue maliciosamente do corpo de um Tathagata ou criar um cisma na Sangha – são considerados no Budismo como os mais graves dos atos negativos. . Mas aqui o versículo diz que todas as impurezas cármicas serão purificadas, incluindo estas. Isto normalmente é considerado extremamente difícil, algo que só pode ser conseguido através do antídoto da aplicação da sabedoria não-dual. Mas aqui estamos dizendo que apenas recitando esta prece é possível. E Rinpoche ensinou: “Isso ocorre porque o carma é fundamentalmente um fenômeno mental. Como disse Buda, tudo são causas e condições, e de todas as causas e condições, a motivação é a mais poderosa. Gerar uma grande aspiração pode manipular imediatamente o carma passado, presente e futuro.” Portanto, transformar a nossa mente também significa nos dar os meios hábeis de transformar o carma.

Este versículo realmente nos oferece uma esperança profunda. Não importa o peso das nossas ações passadas, as aspirações sinceras podem limpar a lousa. Isso realmente ressalta o poder transformador da intenção e da aspiração. Assim, embora o nosso carma seja moldado por inúmeras ações passadas, podemos transformá-lo através do desejo genuíno de iluminação para nós mesmos e para todos os seres. E esta purificação não é apenas apagar o passado, mas é uma transformação profunda, transformando o nosso passado num terreno fértil para o florescimento da nossa natureza búdica. 

Versículo 52

Os treze benefícios em detalhes: Benefícios 9 – 12

[52] (9) Eles possuirão perfeita sabedoria, beleza e excelentes sinais,
(10) Nascerão em uma boa família e com uma aparência radiante.
(11) Demônios e hereges nunca irão prejudicá-los,
(12) E todos os três mundos irão honra-los com oferendas.

Sabedoria

O versículo 52 inclui os benefícios de 9 a 12. Segundo Rinpoche, você pode entender a sabedoria como a capacidade de discernir o que é bom e o que é ruim, o que deve ser adotado, o que deve ser abandonado, o que é Dharma, o que não é Dharma. , e assim por diante. É claro que a sabedoria no Mahayana também inclui conhecer o não-eu da pessoa e de todos os fenômenos. Em outras palavras, refere-se à não-dualidade, que podemos entender como a atitude ou modo de pensar que contradiz o apego dualista. Mas, como disse Rinpoche, também podemos entendê-lo como “o esgotamento da mente comum e dos eventos mentais, que não é um estado de estar completamente vazio ou um vácuo, mas sim luminosidade ou clareza. É a união de clareza e luminosidade ou clareza e vazio”. E como um praticante comum, disse Rinpoche, o melhor método para concretizar esse tipo de sabedoria é a aspiração. 

Ao recitar esta prece, uma das realizações mais supremas é de fato a sabedoria, que é um dos meios ou paramitas mais hábeis que podemos adquirir para beneficiar outros seres. E como dissemos, se formos dualistas, se não tivermos sabedoria, podemos nos sentir desanimados. Podemos pensar que só podemos beneficiar um punhado de seres. E mesmo que estejamos tentando beneficiar apenas um ou dois seres sencientes, quando as coisas não saem como planejado ou quando as pessoas não apreciam nossos esforços, podemos ficar desanimados. E como jovens bodhisattvas, podemos ficar cansados, fatigados. E assim, aqui nesta prece, a aspiração do bodhisattva é continuar aspirando, continuar praticando enquanto existirem seres sencientes – até os limites infinitos do universo. Durante uma seção de perguntas e respostas em Vancouver, ao responder perguntas sobre decepção, Rinpoche disse algumas vezes que: “O melhor antídoto para a decepção é ter uma aspiração infinita”. Então, mais uma vez, trata-se muito de cultivar esta sabedoria da não-dualidade, da inconcebibilidade, da vastidão, à qual voltaremos nas próximas semanas. E como disse Rinpoche: “Nesta esfera ou contexto de sabedoria, não há diferença entre beneficiar um ser ou uma infinidade de seres”. Então, como falaremos mais nas próximas semanas, estamos mudando de um foco apenas em um objetivo limitado para um caminho, onde cada momento da nossa jornada é infundido com esta vasta aspiração. E para aqueles que conhecem a ideia de jogos finitos e infinitos, trata-se de pensar na nossa vida não como uma espécie de jogo finito com um objetivo finito, mas realmente como um jogo infinito. Falaremos mais sobre isso nas próximas semanas.

Aparência radiante e outros benefícios mundanos

Este versículo também fala sobre ter uma aparência radiante e, de forma mais ampla, sobre os meios hábeis de manifestar diferentes corpos, atributos, castas, clãs, cores e signos. Isto poderia incluir coisas mundanas como fama, prosperidade ou relacionamentos, que na verdade também podem ser alcançadas através de aspirações mundanas e medíocres. Mas neste caso, o bodhisattva aspira por estas coisas mundanas não por razões mundanas, mas por causa do seu desejo de beneficiar os seres. Um bodhisattva usa diferentes cores, diferentes formas, diferentes modelos para melhor inspirar os seres, para alcançá-los, para ensinar o Dharma. Então, mais uma vez, a nossa aspiração de melhorar as nossas condições relativas não é para nós mesmos, mas para que possamos estudar, praticar, partilhar e ensinar melhor o Dharma. Aspiramos por coisas como uma aparência radiante apenas na medida em que isso beneficie os outros.

E, claro, há um verdadeiro desafio aqui em nos mantermos honestos. Agora, alguns de vocês podem ter acompanhado recentemente o que aconteceu com toda a implosão criptográfica da FTX e Sam Bankman-Fried, que estava relacionada ao movimento Altruísmo Eficaz e à ideia de que você pode “ganhar para dar”. E por vezes as pessoas podem pensar nas suas próprias vidas desta forma – “deixe-me cultivar riqueza e boas condições agora para que possa distribuí-las melhor no futuro”. Mas há sempre um perigo real de podermos nos enganar. Rinpoche frequentemente cita as canções de Milarepa: “Minha religião é não me enganar e não perturbar os outros”. Ou para aqueles que assistiram ao filme Oppenheimer, Richard Feynman, o físico Nobel, disse: “O primeiro princípio é que você não deve se enganar, e você é a pessoa mais fácil de enganar”. Portanto, esteja sempre atento. Quando dizemos a nós mesmos: “Ah, sim, quero o bem relativo para poder beneficiar os outros”, basta verificar sua intenção. É realmente para beneficiar os outros ou você está apenas se enganando?

O décimo segundo benefício, ser venerado pelos três mundos, não é apenas porque você tem alguma posição temporária, poder ou influência que irá desaparecer. É porque você se tornou uma personificação viva da bodhichitta, a aspiração do bodhisattva. Suas qualidades, sua gentileza, sua bondade — elas se tornarão visíveis, onipresentes onde quer que você vá e, portanto, você será venerado e respeitado pelos seres. 

Versículo 53

Os treze benefícios em detalhes: Benefício 13

[53] (13) Eles irão rapidamente para debaixo da árvore bodhi,
E lá, se sentarão, para beneficiar todos os seres sencientes, então
Despertarão para a iluminação, girarão a roda do Dharma,
E domarão Mara com todas as suas hostes.

Com o versículo 53, chegamos ao último dos benefícios. Como disse Rinpoche, esta é a parte mais bonita. O bodhisattva vai até a Árvore Bodhi, senta-se sob a árvore, alcança o estado de Buda e então gira a roda do Dharma. Então lembre-se, nossa aspiração aqui, no sentido último, é Bodhichitta. É alcançar a iluminação para nós mesmos, para que possamos beneficiar todos os outros seres. Este versículo enfatiza que a iluminação não é um fim, mas um começo – o início de um compromisso interminável para girar a roda do Dharma e domar as forças que prendem a nós e a todos os seres ao sofrimento. Ao contemplar estes versículos, lembre-se sempre de que a nossa transformação, a nossa aspiração, não é apenas para o nosso benefício, mas é a chave para desbloquear o potencial ilimitado de compaixão, sabedoria e libertação de todos os seres. 

Versículo 54

3.3. Os Benefícios em Resumo

[54] O resultado completo de manter, ensinar ou ler
Esta Prece de Aspiração às Boas Ações
É conhecido apenas pelos Budas:
Não tenha dúvidas: a iluminação suprema será sua!

O versículo final desta semana, versículo 54, resume brevemente os benefícios. E aqui Rinpoche disse: “Nunca duvide do caminho do bodhisattva.” Não se preocupe com o fato de que você pode lutar para beneficiar pelo menos um ser – um amigo, um cônjuge ou um filho – e então se perguntar como você poderia beneficiar todos os seres sencientes. Não se preocupe, porque só de carregar esse texto, só de folhear o texto sem muita concentração, só isso, o mérito é infinito. Como disse Rinpoche, não duvide destas palavras porque estamos falando de um ato mental baseado em uma vasta aspiração. E isso é a essência deste Rei das Preces de Aspiração.

Este versículo nos oferece uma profunda segurança. Ao manter, ensinar e até mesmo ler esta aspiração, nos alinhamos com um caminho que é conhecido e abençoado pelos Budas. Não é apenas um sentimento encorajador, é uma prova do poder da aspiração. Quando fundamentados na fé, motivados pelo desejo altruísta de iluminação de todos os seres e inspirados pela sabedoria dos Budas, o nosso caminho para a iluminação torna-se inevitável. Esta garantia nos convida a um envolvimento profundo na prece, confiantes no conhecimento de que os nossos esforços são apoiados pelos desejos compassivos de todos os budas e bodhisattvas. Deixe que esta segurança alimente o nosso compromisso com o caminho Mahayana, nos inspirando a incorporar estas aspirações em todos os nossos pensamentos, palavras e ações.

Conclusão

Então, para encerrar, mais uma vez gostaria de convidá-lo a fazer desta prece uma prática diária regular, mesmo que seja apenas por alguns momentos todos os dias. Mesmo que – como a própria prece sugere – você apenas o carregue na pasta ou na bolsa. Talvez considere manter algum tipo de diário para refletir sobre como esses versículos estão falando sobre suas experiências e aspirações atuais, e perceber quaisquer mudanças ou aprofundamento de compromisso ao longo dessas semanas. E realmente alimente uma mentalidade de aspiração Mahayana em suas atividades diárias. Veja a oportunidade de viver esses versículos no dia a dia. Desafie-se a ver as situações através da visão ou lente de um bodhisattva. Como posso trazer compaixão para essa interação? Como podem as minhas ações refletir as minhas aspirações mais profundas em benefício de todos os seres? Mesmo simples atos de bondade, momentos de paciência diante da irritação e gestos de generosidade podem tornar-se expressões do nosso voto de bodhisattva. E lembre-se, é nas atividades aparentemente mundanas do dia a dia que nosso maior crescimento espiritual pode ocorrer. 

E assim, ao concluirmos esta semana, vamos levar adiante a compreensão de que esses versículos aspiracionais são muito mais do que apenas desejos pessoais de crescimento espiritual. São atos de benevolência universal. Cada recitação, cada momento de reflexão, fortalece não apenas o nosso próprio caminho para a iluminação, mas também contribui para a vasta rede interligada do despertar que abrange todos os seres. O caminho que percorremos é pavimentado com as aspirações e práticas de incontáveis bodhisattvas antes de nós, e a cada passo estendemos o mesmo apoio a todos os que o seguem. Que o nosso envolvimento com estes ensinamentos nos inspire a viver com compaixão ilimitada, paciência inabalável e profunda sabedoria, dedicando cada pensamento, palavra e ação à iluminação de todos os seres. Então, obrigado por compartilhar nossa jornada esta semana, e que o mérito de nossas aspirações coletivas beneficie todos os seres, nos conduzindo juntos à costa do despertar perfeito. Com isso, desejo-lhe uma boa semana e espero vê-lo novamente na próxima semana.


Nota: para ler as notas de rodapé, clique nos números sobrescritos

Transcrito e editado por Alex Li Trisoglio
Tradução para o português por Alvaro Luis Campos